A paralisia do sono é uma condição quando o indivíduo sente que está acordado, mas não consegue se mover, falar ou agir. Muitos também sentem uma sensação de sufocamento ou a presença de algo estranho no quarto.
O distúrbio acontece quando o cérebro e os músculos do corpo se dessincronizam durante o sono, e a pessoa acorda durante o sono REM (movimento rápido dos olhos), fase do sono em que os sonhos são mais frequentes. Nessa fase, o cérebro libera duas substâncias chamadas glicina e GABA, que deixam os músculos paralisados, presumivelmente para impedir a ação do sonhador de andar, falar e se movimentar. É um tipo de defesa do corpo, que nos sonâmbulos pode falhar. Durante episódios de paralisia do sono, alguma coisa sai do controle, e o estado de imobilidade permanece mesmo após o indivíduo estar desperto. Ficar consciente antes do corpo "acordar" caracteriza a aterrorizante experiência. É um distúrbio similar ao sonambulismo, mas que se difere no sentido da imobilidade involuntária. Podendo durar alguns os segundos ou minutos antes de a pessoa conseguir despertar por inteiro e adquirir o controle novamente.
Pesquisadores afirmam que saber isso acontece ajuda a sentir menos pânico durante um episódio da paralisia do sono. Como algumas pessoas não sabem, elas acreditam que há algo sobrenatural agindo sobre elas.
Mitos e lendas a respeito do assunto aparecem no mundo inteiro. Ao longo de séculos, os sintomas têm sido descritos de muitas maneiras e muitas vezes atribuídos à ação de seres malignos: entidades misteriosas e diabólicas nos tempos antigos, velhas bruxas capazes de realizar feitiços e malefícios na Idade Média e, mais recentemente, abduções alienígenas.
Estima-se que milhões de pessoas no mundo sofram da paralisia. Porém muitos não se recordam desses pesadelos despertos, afortunadamente esquecem deles no momento que despertam por inteiro, mas continuam tendo a sensação incômoda de falta de ar e pavor. Outros se recusam a falar sobre o assunto ou tentam contornar o mal com tranquilizantes, drogas entorpecentes ou álcool.
Durante um encontro realizado em 2012 pelo Centro de Pesquisas do Sono, organizado pelo Professor Christopher French, diretor do Departamento de Psicologia da Universidade de Londres, foram discutidos os sintomas do distúrbio.
"A pessoa que sofre de Paralisia do Sono apresenta um estado de semi-consciência no qual não é capaz de assumir se está acordada ou dormindo. É justo afirmar que ela se encontra num ínterim entre as duas condições. Imediatamente, ela descobre que não tem domínio sobre o seu sistema motor ou coordenação, e se vê totalmente incapaz de se mover. Nesse estado de impotência e fragilidade, muitos mencionam o que é descrito como a sensação de estar diante de uma presença desconhecida. É como se a pessoa fosse capaz de sentir que alguém está fisicamente muito próximo, mas não é capaz de ver ou tocar essa forma, para todos os efeitos ela é incorpórea e invisível. O indivíduo tem certeza que existe algo ou alguém com ele no aposento e que essa presença é de alguma forma hostil. Alguns se referem a essa presença como algo malígno, simplesmente uma força perversa que existe apenas para propagar o mal" relata o Professor French.
É muito comum que nesse estágio da Paralisia do Sono ocorram alucinações. Essas podem ser visuais (a pessoa vê luzes se movendo no quarto, sombras escuras, formas grotescas e monstruosas se formando no ar), auditivas (ouve vozes, passos e ruídos incomuns), olfativas (sente cheiros estranhos, odores fortes e desagradáveis) e táteis (a pessoa sente que está sendo tocada), como se existisse alguém muito perto, a ponto de senti-la encostando ou pressionando seu corpo. Algumas vezes existe uma combinação de vários desses elementos se manifestando simultaneamente em uma grande alucinação.
A
cineasta britânica Carla MacKinnon ficou interessada no tema quando ela mesma
começou a despertar várias vezes por semana incapaz de se mover, sempre com a
mesma sensação de pavor causada por uma presença se manifestando em seu quarto.
"Eu sofri sucessivos episódios de Paralisia do Sono, e fiquei muito
interessada no que vinha acontecendo, tentei coletar informações e testemunhos
para chegar a um significado médico disso".
A
pesquisa de MacKinnon se transformou em um documentário, patrocinado pelo Royal
College of Arts de Londres, que chama a atenção do público para esse
estranho fenômeno. No
documentário, McKinnon entrevistou vários psicólogos e experts que ofereceram
suas opiniões sobre o tema e pode compartilhar suas próprias experiências:
"Eu olhava para o meu braço e tentava movê-lo. Eu o comandava, mas ele continuava estático. Quando eu tentava rolar para o lado, ou sentar, meu corpo se mostrava entorpecido. Eu não sentia nada, mas estava ciente do que estava acontecendo à minha volta. Podia ver meu marido dormindo tranquilamente, mas não tinha como pedir ajuda a ele. Eu entrei em pânico, achando que estava sofrendo um acidente vascular. Meu corpo era uma casca e eu não tinha o menor controle sobre ele. Eu então desisti de lutar, queria pedir ajuda, mas a voz não saia. Veio então aquela esmagadora intuição, como se algo estivesse pressionando o meu peito, uma presença física e onipresente", conta Carla no documentário.
"Eu olhava para o meu braço e tentava movê-lo. Eu o comandava, mas ele continuava estático. Quando eu tentava rolar para o lado, ou sentar, meu corpo se mostrava entorpecido. Eu não sentia nada, mas estava ciente do que estava acontecendo à minha volta. Podia ver meu marido dormindo tranquilamente, mas não tinha como pedir ajuda a ele. Eu entrei em pânico, achando que estava sofrendo um acidente vascular. Meu corpo era uma casca e eu não tinha o menor controle sobre ele. Eu então desisti de lutar, queria pedir ajuda, mas a voz não saia. Veio então aquela esmagadora intuição, como se algo estivesse pressionando o meu peito, uma presença física e onipresente", conta Carla no documentário.
"Era
como se houvesse alguém ali comigo. Uma forma escura, sinistra, simplesmente
aterrorizante. Eu não via detalhes da sua aparência, pois o quarto estava muito
escuro, mas era capaz de sentir seu peso em cima de mim, as suas mãos frias no
meu pescoço e um cheiro desagradável de frutas podres. Era um pesadelo terrível
e consciente que durava apenas alguns minutos, mas parecia levar horas para
terminar".
Outra testemunha que aceitou falar a respeito de sua Paralisia de Sono no documentário foi o estudante universitário Peter Moore que sofre dessa condição desde os treze anos de idade. Ele já despertou várias vezes incapaz de se mover e com uma forte sensação de estar sendo pressionado por alguma coisa pesada em seu peito, tornando quase impossível respirar. Peter aceitou ser hipnotizado a fim de descrever o que o afligia. Ele relatou então um episódio especialmente aterrorizante em que um enorme gato preto sentava sobre o seu peito para morder seu rosto.
Peter foi
capaz de descrever em detalhes o quarto que ocupava quando morava com os pais e
explicou que seu corpo estava totalmente imobilizado, sendo capaz de mover
apenas os olhos de um lado para o outro. O mais terrível em sua visão era a
descrição do felino, um gato cuja cabeça não passava de um crânio branco,
devorado por vermes e que rosnava sibilando ameaçadoramente. Durante a sessão
de hipnose a agonia de Peter era tamanha que quando a hipnose foi quebrada e
ele despertou, a primeira coisa que fez, foi socar o ar e se levantar. O
pesadelo de Peter encontrava eco uma fobia crônica de felinos.
Outra
vítima de Paralisia do Sono, o neuropsicanalista e autor Paul Brooks passou a
se dedicar ao estudo do distúrbio como maneira de aplacar seus pesadelos
recorrentes:
"Hoje
eu reconheço que sofria de sonhos lúcidos, um estado alucinatório margeando as
terras profundas do mundo onírico. Quando a mente está em um estado de alerta,
mas o corpo permanece aprisionado pela paralisia do sono, uma interseção entre
a realidade e o sonho. É algo aterrorizante, inexplicável. Você não consegue
respirar, não consegue se mover, falar ou gritar por socorro. É como estar
aprisionado diante de um animal selvagem que vai se aproximando lentamente para
atacar. Eu acordei várias vezes coberto de suor e com lágrimas no rosto. Em uma
ocasião, minha esposa teve que jogar água em meu rosto para que eu me
acalmasse. É algo absolutamente perturbador", contou o Dr. Brooks a
respeito de suas experiências.
Como
mencionado previamente, é muito comum às pessoas sofrendo de Paralisia do Sono
travar encontros inexplicáveis com criaturas sobrenaturais, sejam estas
demônios, seres monstruosos, bruxas e até extraterrestres realizando cirurgias
experimentais.
"Imagens comuns de pessoas barbadas,
duendes, demônios gargalhando e de monstros sussurrando em línguas
desconhecidas, de figuras sem rosto, animais medonhos, insetos repugnantes e
outras coisas são manifestações comuns. As alucinações criadas pela própria
mente são incrivelmente reais. Há muitas descrições de vítimas de paralisia do
sono se referindo a criaturas da ficção e personagens de filmes".
O Dr. Brooks contou que seus episódios de Paralisia
do Sono envolviam uma figura totalmente escura. "Parecia um tipo de
demônio medieval ou gárgula gótico, atarracado e corcunda que ficava de pé na
guarda da minha cama, balançando para frente e para trás. Por vezes ele abria a
boca e uma fumaça cinzenta surgia de dentro dela. Eu conseguia sentir o
movimento da cama, ouvia claramente o ruído dela rangendo e até o cheiro ocre
do seu hálito. A experiência durava alguns minutos e depois se encerrava
subitamente".
Mesmo
nos dias atuais, muitas sociedades interpretam essas experiências em termos
sobrenaturais baseando-se em folclore e crenças enraizadas na sociedade em que
vivem. No Canadá, a crença na "Velha Bruxa" que senta no peito da
pessoa que dorme tranquilamente para sufocá-la é bastante conhecida. No
folclore do Japão existe o kanashibari, um tipo de demônio noturno que esgana
as suas vítimas e rouba a sua respiração. No Brasil existe a "pisadeira",
uma bruxa cadavérica que tende a pisar no estômago e no peito de suas vítimas
até esmagá-los.
É
possível que a sensação de terror durante esse distúrbio seja consequência de uma ativação da amídala,
a glândula do cérebro responsável pelos estímulos de percepção que
identificamos como ameaças e terrores cotidianos.
Fontes: Mundo Tentacular, Miteriosdomundo.org
1 comentários:
Achei o post muito legal, escrevi sobre paralisia do sono esses dias no meu blog também. Mais especificamente sobre um documentário sobre esse distúrbio do sono. O nome é The Nightmare, você conhece?
Adorei o blog, vem conhecer o meu? http://goulartmonique.wordpress.com
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