A paralisia do sono é uma condição quando o indivíduo sente que está acordado, mas não consegue se mover, falar ou agir. Muitos também sentem uma sensação de sufocamento ou a presença de algo estranho no quarto.
O distúrbio acontece quando o cérebro e os músculos do corpo se dessincronizam durante o sono, e a pessoa acorda durante o sono REM (movimento rápido dos olhos), fase do sono em que os sonhos são mais frequentes. Nessa fase, o cérebro libera duas substâncias chamadas glicina e GABA, que deixam os músculos paralisados, presumivelmente para impedir a ação do sonhador de andar, falar e se movimentar. É um tipo de defesa do corpo, que nos sonâmbulos pode falhar. Durante episódios de paralisia do sono, alguma coisa sai do controle, e o estado de imobilidade permanece mesmo após o indivíduo estar desperto. Ficar consciente antes do corpo "acordar" caracteriza a aterrorizante experiência. É um distúrbio similar ao sonambulismo, mas que se difere no sentido da imobilidade involuntária. Podendo durar alguns os segundos ou minutos antes de a pessoa conseguir despertar por inteiro e adquirir o controle novamente.
Pesquisadores afirmam que saber isso acontece ajuda a sentir menos pânico durante um episódio da paralisia do sono. Como algumas pessoas não sabem, elas acreditam que há algo sobrenatural agindo sobre elas.
Mitos e lendas a respeito do assunto aparecem no mundo inteiro. Ao longo de séculos, os sintomas têm sido descritos de muitas maneiras e muitas vezes atribuídos à ação de seres malignos: entidades misteriosas e diabólicas nos tempos antigos, velhas bruxas capazes de realizar feitiços e malefícios na Idade Média e, mais recentemente, abduções alienígenas.
Estima-se que milhões de pessoas no mundo sofram da paralisia. Porém muitos não se recordam desses pesadelos despertos, afortunadamente esquecem deles no momento que despertam por inteiro, mas continuam tendo a sensação incômoda de falta de ar e pavor. Outros se recusam a falar sobre o assunto ou tentam contornar o mal com tranquilizantes, drogas entorpecentes ou álcool.
"A pessoa que sofre de Paralisia do Sono apresenta um estado de semi-consciência no qual não é capaz de assumir se está acordada ou dormindo. É justo afirmar que ela se encontra num ínterim entre as duas condições. Imediatamente, ela descobre que não tem domínio sobre o seu sistema motor ou coordenação, e se vê totalmente incapaz de se mover. Nesse estado de impotência e fragilidade, muitos mencionam o que é descrito como a sensação de estar diante de uma presença desconhecida. É como se a pessoa fosse capaz de sentir que alguém está fisicamente muito próximo, mas não é capaz de ver ou tocar essa forma, para todos os efeitos ela é incorpórea e invisível. O indivíduo tem certeza que existe algo ou alguém com ele no aposento e que essa presença é de alguma forma hostil. Alguns se referem a essa presença como algo malígno, simplesmente uma força perversa que existe apenas para propagar o mal" relata o Professor French.
É muito comum que nesse estágio da Paralisia do Sono ocorram alucinações. Essas podem ser visuais (a pessoa vê luzes se movendo no quarto, sombras escuras, formas grotescas e monstruosas se formando no ar), auditivas (ouve vozes, passos e ruídos incomuns), olfativas (sente cheiros estranhos, odores fortes e desagradáveis) e táteis (a pessoa sente que está sendo tocada), como se existisse alguém muito perto, a ponto de senti-la encostando ou pressionando seu corpo. Algumas vezes existe uma combinação de vários desses elementos se manifestando simultaneamente em uma grande alucinação.
A
cineasta britânica Carla MacKinnon ficou interessada no tema quando ela mesma
começou a despertar várias vezes por semana incapaz de se mover, sempre com a
mesma sensação de pavor causada por uma presença se manifestando em seu quarto.
"Eu sofri sucessivos episódios de Paralisia do Sono, e fiquei muito
interessada no que vinha acontecendo, tentei coletar informações e testemunhos
para chegar a um significado médico disso".
A
pesquisa de MacKinnon se transformou em um documentário, patrocinado pelo Royal
College of Arts de Londres, que chama a atenção do público para esse
estranho fenômeno. No
documentário, McKinnon entrevistou vários psicólogos e experts que ofereceram
suas opiniões sobre o tema e pode compartilhar suas próprias experiências:
"Eu olhava para o meu braço e tentava movê-lo. Eu o comandava, mas ele continuava estático. Quando eu tentava rolar para o lado, ou sentar, meu corpo se mostrava entorpecido. Eu não sentia nada, mas estava ciente do que estava acontecendo à minha volta. Podia ver meu marido dormindo tranquilamente, mas não tinha como pedir ajuda a ele. Eu entrei em pânico, achando que estava sofrendo um acidente vascular. Meu corpo era uma casca e eu não tinha o menor controle sobre ele. Eu então desisti de lutar, queria pedir ajuda, mas a voz não saia. Veio então aquela esmagadora intuição, como se algo estivesse pressionando o meu peito, uma presença física e onipresente", conta Carla no documentário.
"Eu olhava para o meu braço e tentava movê-lo. Eu o comandava, mas ele continuava estático. Quando eu tentava rolar para o lado, ou sentar, meu corpo se mostrava entorpecido. Eu não sentia nada, mas estava ciente do que estava acontecendo à minha volta. Podia ver meu marido dormindo tranquilamente, mas não tinha como pedir ajuda a ele. Eu entrei em pânico, achando que estava sofrendo um acidente vascular. Meu corpo era uma casca e eu não tinha o menor controle sobre ele. Eu então desisti de lutar, queria pedir ajuda, mas a voz não saia. Veio então aquela esmagadora intuição, como se algo estivesse pressionando o meu peito, uma presença física e onipresente", conta Carla no documentário.
"Era
como se houvesse alguém ali comigo. Uma forma escura, sinistra, simplesmente
aterrorizante. Eu não via detalhes da sua aparência, pois o quarto estava muito
escuro, mas era capaz de sentir seu peso em cima de mim, as suas mãos frias no
meu pescoço e um cheiro desagradável de frutas podres. Era um pesadelo terrível
e consciente que durava apenas alguns minutos, mas parecia levar horas para
terminar".
Outra testemunha que aceitou falar a respeito de sua Paralisia de Sono no documentário foi o estudante universitário Peter Moore que sofre dessa condição desde os treze anos de idade. Ele já despertou várias vezes incapaz de se mover e com uma forte sensação de estar sendo pressionado por alguma coisa pesada em seu peito, tornando quase impossível respirar. Peter aceitou ser hipnotizado a fim de descrever o que o afligia. Ele relatou então um episódio especialmente aterrorizante em que um enorme gato preto sentava sobre o seu peito para morder seu rosto.
Peter foi
capaz de descrever em detalhes o quarto que ocupava quando morava com os pais e
explicou que seu corpo estava totalmente imobilizado, sendo capaz de mover
apenas os olhos de um lado para o outro. O mais terrível em sua visão era a
descrição do felino, um gato cuja cabeça não passava de um crânio branco,
devorado por vermes e que rosnava sibilando ameaçadoramente. Durante a sessão
de hipnose a agonia de Peter era tamanha que quando a hipnose foi quebrada e
ele despertou, a primeira coisa que fez, foi socar o ar e se levantar. O
pesadelo de Peter encontrava eco uma fobia crônica de felinos.
Outra
vítima de Paralisia do Sono, o neuropsicanalista e autor Paul Brooks passou a
se dedicar ao estudo do distúrbio como maneira de aplacar seus pesadelos
recorrentes:
"Hoje
eu reconheço que sofria de sonhos lúcidos, um estado alucinatório margeando as
terras profundas do mundo onírico. Quando a mente está em um estado de alerta,
mas o corpo permanece aprisionado pela paralisia do sono, uma interseção entre
a realidade e o sonho. É algo aterrorizante, inexplicável. Você não consegue
respirar, não consegue se mover, falar ou gritar por socorro. É como estar
aprisionado diante de um animal selvagem que vai se aproximando lentamente para
atacar. Eu acordei várias vezes coberto de suor e com lágrimas no rosto. Em uma
ocasião, minha esposa teve que jogar água em meu rosto para que eu me
acalmasse. É algo absolutamente perturbador", contou o Dr. Brooks a
respeito de suas experiências.
Como
mencionado previamente, é muito comum às pessoas sofrendo de Paralisia do Sono
travar encontros inexplicáveis com criaturas sobrenaturais, sejam estas
demônios, seres monstruosos, bruxas e até extraterrestres realizando cirurgias
experimentais.
"Imagens comuns de pessoas barbadas,
duendes, demônios gargalhando e de monstros sussurrando em línguas
desconhecidas, de figuras sem rosto, animais medonhos, insetos repugnantes e
outras coisas são manifestações comuns. As alucinações criadas pela própria
mente são incrivelmente reais. Há muitas descrições de vítimas de paralisia do
sono se referindo a criaturas da ficção e personagens de filmes".
O Dr. Brooks contou que seus episódios de Paralisia
do Sono envolviam uma figura totalmente escura. "Parecia um tipo de
demônio medieval ou gárgula gótico, atarracado e corcunda que ficava de pé na
guarda da minha cama, balançando para frente e para trás. Por vezes ele abria a
boca e uma fumaça cinzenta surgia de dentro dela. Eu conseguia sentir o
movimento da cama, ouvia claramente o ruído dela rangendo e até o cheiro ocre
do seu hálito. A experiência durava alguns minutos e depois se encerrava
subitamente".
Mesmo
nos dias atuais, muitas sociedades interpretam essas experiências em termos
sobrenaturais baseando-se em folclore e crenças enraizadas na sociedade em que
vivem. No Canadá, a crença na "Velha Bruxa" que senta no peito da
pessoa que dorme tranquilamente para sufocá-la é bastante conhecida. No
folclore do Japão existe o kanashibari, um tipo de demônio noturno que esgana
as suas vítimas e rouba a sua respiração. No Brasil existe a "pisadeira",
uma bruxa cadavérica que tende a pisar no estômago e no peito de suas vítimas
até esmagá-los.
É
possível que a sensação de terror durante esse distúrbio seja consequência de uma ativação da amídala,
a glândula do cérebro responsável pelos estímulos de percepção que
identificamos como ameaças e terrores cotidianos.
Fontes: Mundo Tentacular, Miteriosdomundo.org
1 comentários:
Achei o post muito legal, escrevi sobre paralisia do sono esses dias no meu blog também. Mais especificamente sobre um documentário sobre esse distúrbio do sono. O nome é The Nightmare, você conhece?
Adorei o blog, vem conhecer o meu? http://goulartmonique.wordpress.com
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